quarta-feira, 27 de abril de 2011

Parabéns!!!

Ela vivia na sua bolha. É certo que ela possuía demasiados rasgões (rasgões esses que ela, incessante e inutilmente, tentava remendar), mas a bolha continuava a ser sua, apesar de todo o caos, todo o desespero e toda a podridão que se respirava nela. Vedada a toda e qualquer entrada, a bolha era Sua!
            Em todos os minutos do dia ela tentava, arduamente, exorcizar cheiros, imagens, partes de seres que, independentemente de ter permitido a entrada, ou não, ela não queria mais que da sua vida fizessem parte.
            Tudo o que ela queria era, que na sua bolha, ela pudesse respirar um ar que só a ela não fosse tóxico, um ar capaz de exterminar tudo e todos que nela tentassem penetrar… só queria a sua bolha de volta!!!
            Os minutos do relógio avançavam, dia após dia, e ela continuava parada, pois vivia absorvida no seu objectivo; os seus olhos só viam uma bolha cada vez mais impermeabilizada, cada vez mais capaz de aguentar com ela e com os seus mundos, sem almas físicas, sem corpos etéreos que ela não se sentia capaz de suportar.
            À medida que suturava todas as feridas da sua bolha, sentia que, finalmente, iria ter a sua bolha de volta, só para ela, como há tanto tempo ansiava.
            Sentia a sua bolha mais deteriorada do que todas as que o seu olhar conseguia alcançar; deixou de ter noção que todas as bolhas que a rodeavam possuíam rasgões, que todos os seres que habitavam as suas bolhas se encontram, num qualquer momento das suas vidas, a sarar as feridas que outros, ou eles próprios, nelas fizeram.
            Não teve a capacidade de perceber que, ainda que impecavelmente retalhada, a sua bolha não deixava de ser um retalho…
            Foi o seu maior (e melhor!) erro!
            Sentiu que uma bolha estranha se aproximava da sua, sem noção de que a sua própria bolha se dirigia na mesma direcção; no entanto, sentia-se segura, pois sabia que o seu espaço estava protegido.
            Essa bolha parecia tão firme  ,
            Por instantes, enquanto ainda despejava restos de sujidade, sentia que talvez a sua bolha não fosse tão impenetrável quanto ela julgava…
            Que esta nova bolha tinha a capacidade de a desconcertar no seu meticuloso trabalho de regeneração, que a cada nova tentativa de aproximação ela deixava de suturar feridas para somente olhar para o interior da bolha que se aproximava…
            Deixou que esta nova bolha abrisse um novo rasgão, um rasgão para o qual ela já tinha preparado a sutura, perdendo a noção de que não temos pleno controle sobre tudo o que nos rodeia…
            Quis saber como era o mundo dentro da nova bolha, sentir os cheiros que a preenchem… Da mesma forma, permitiu que a nova bolha fizesse o mesmo…
            Quando se apercebeu que a nova bolha havia penetrado na sua vida e que tinha determinado exactamente o contrário no seu código de conduta, era tarde de mais…
            A nova bolha já lá estava dentro, e ela própria havia cozido o rasgão que fizera.
            Não havia nada que ela pudesse fazer: a nova bolha encontrava-se, nesse momento, a fazer parte da sua… e, incrivelmente, ela não desejava que saísse… Esta nova bolha fazia-a sentir-se segura, sem receio de assumir os seus rasgões pseudo-remendados, sem medo de admitir que não queria despender tempo a abrir um rasgão para a nova bolha sair…
            Admitiu, perante a sua própria bolha, que a nova bolha iria, somente, abrir os rasgões que ela permitisse.
            Não tinha a percepção de que a nova bolha abria pequenos, e para ela imperceptíveis, orifícios…
            Sentia, simplesmente, que a nova bolha se diluía cada vez mais na sua, ainda que contra a sua vontade…
            Tomou consciência dos orifícios abertos pela nova bolha e sentia-se, sadicamente, viciada…
 Toda e qualquer tentativa de entrada da nova bolha lhe proporcionava um prazer que ela, ainda que negasse, era mais que óbvio…
  Deixou de negar…
            Neste momento, ela não sutura feridas. A sua bolha é sua, mas existe uma bolha dissolvida na sua, à qual ela não nega saída, mas à qual Nunca nega entrada!
           
           
             

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