quinta-feira, 13 de maio de 2010


"E eu gosto tanto dela que não sei como a desejar.
Se a não vejo, imagino-a e sou forte como as árvores altas.

Mas se a vejo tremo, não sei o que é feito do que sinto na ausência dela."

Fernando Pessoa


Como Fernando Pessoa exprime por palavras tão certas o que eu tento, inutilmente, dizer...
Não quero mais estar anestesiada neste quotidiano mundo, nesta rotineira existência onde me encontro inserida e onde repouso.
Nada do que faça é capaz de me proporcionar o prazer outrora sentido e tantas, e nostálgicas vezes, tornado a sentir!
Sinto-me inebriada no interior de uma bolha, onde sou eu e um milhão de outros seres, reais e imaginários, que ocupam, todos eles, muito mais espaço do que eu própria alguma vez consegui ocupar.
Mas esta era a MINHA bolha. Só eu habitava nela, com toda a claridade e transparência necessárias para, mais do que subsistir, existir!
Permiti a entrada de alguns, outros se seguiram sem a minha permissão mas também sem a minha negação e, ainda outros, rebentaram a minha bolha para nela conseguirem penetrar...
Permiti a saída de quem não queria ver sair, outros se seguiram sem que eu pudesse uma palavra pronunciar e, ainda outros, forçaram a sua própria saída, ainda que por mim negada, formando enormes buracos...
Tanto tempo perdido a cozer rasgões desnecessários e a sarar as mazelas da minha própria bolha, quando tudo teria merecido apenas algum discernimento.
Porque me encolhi tanto?Porque deixei que todos esses seres, estranhos, diferentes, ávidos da minha existência, se apoderassem do que me pertencia?
Agora, aguardo, prostrada perante a minha dormência, que algo desperte a minha tão adormecida vontade.
Sei que de nada me vale "gritar, chorar e orar"; que eu, e apenas eu, sendo culpada por toda esta intrusão, terei que limpar da minha bolha toda a putrefacção que nela se encontra: todos os cheiros nauseabundos, todas as marcas de sangue, todo o vómito, toda a podridão de pedaços de corpos, todo o caos, também este deteriorado e desfragmentado...!!!
Mas, não me consigo mover no meu espaço, a minha vista, ainda que também ela cansada, não alcança a saída no meio de tanto nojo...
Desespero...Mas, mais uma vez, ninguém ouve o meu silencioso grito, também ele abafado por todos os silêncios devastadores que o rodeiam...
Alguém capaz de me ouvir encontra-se na sua bolha, incapaz de me alcançar, incapaz de me ouvir, incapaz de me ver, rodeado também ele por todos esses seres que se apoderam da sua própria vida; não anseio mais que essa tão longínqua bolha faça parte da minha, pois sinto que duas bolhas inquebráveis, não se podem unir!
Agora, sou eu a ansiar conseguir tratar da minha bolha...
Eu...e todos esses seres que nela vivem...!!!

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